domingo, 25 de setembro de 2011

Análise, a partir da comida, do filme: ESTÔMAGO

Buenas! Essa análise esta simplória, qualquer comentário é bem vindo!


Por : Claudio Moura ( Nada e menos um pouco )


O filme é uma produção entre Brasil e Itália e foi lançado em 2007 . As filmagens sendo feitas em Curitiba e São Paulo e a pós produção em Milão e Roma. O roteiro foi baseado no conto de Lusa Silvestre: “presos pelo estômago” e teve a direção de Marcos Jorge.
O filme conta a história do personagem Raimundo Nonato, que veio do interior para tentar a vida na cidade. Sem ter dinheiro Nonato acaba em um bar, onde come e não paga por ela. Zumiro, dono do estabelecimento, lhe oferece um quartinho e comida para ficar ajudando. Aceita e fica aprendendo a cozinhar, descobrindo assim, ter grande talento para o ato. Desta forma, ele alavanca o movimento do bar, principalmente pela produção de suas “ coxinhas de galinha”. A história vai se desenrolando através dessa perspectiva, onde Raimundo Nonato descobre seu talento para a “arte de cozinhar” e aos poucos vai tendo ascensão na vida. Sua vida afetiva também é influenciada por seu trabalho, tendo conquistado a garota de programa Iria. A relação entre os dois é interessante, na medida em que ela parece ser de certa forma paga com os pratos que ele prepara para ela. Seu talento é reconhecido pelo dono de um conhecido restaurante italiano da cidade: Bocaccio. Giovani o dono, convida-o para ser auxiliar de cozinha. Nesse novo emprego, Nonato aprende muitas coisas e se torna cada vez mais respeitado e começam a aparecer para o personagem, vários pratos e maneiras de fazer a comida que ele desconhecia e até então achava estranho. Para ele, segundo Mintz, seu comportamento de estranheza relativo a comida revela a cultura e a identidade social em que ele esta inserido. Ainda, segundo o autor, “nossas atitudes em relação a comida são normalmente aprendidas cedo e bem, e são, em geral, inculcadas por adultos afetivamente poderosos, o que confere ao nosso comportamento um poder sentimental duradouro.” ( p31 ) Apesar disso, como acontece com o personagem, seus hábitos alimentares vão mudando um pouco com o tempo, mostrando que apesar de ser enraizado desde pequeno, sua cultura alimentar muda significativamente. “ Mas a memória e o peso do primeiro aprendizado alimentar e algumas formas sociais aprendidas através dele permanecem” ( P. 32)
Enquanto isso, a narrativa intercala esses momentos da trajetória do protagonista e seu desenvolvimento profissional, com o fato dele estar preso. No desenrolar da história é que vamos descobrir o motivo dele estar lá. Da mesma forma em que ele consegue ter reconhecimento fora da prisão, durante o encarceramento, acontece também. Seus colegas de cela ao descobrirem sua profissão, agradam-se de tal maneira a ponto dele ser altamente reconhecido e elogiado. Bujiú, o “chefe” da cela onde ele esta, lhe oferece regalias, mostrando que o cozinhar mudou significativamente os hábitos alimentares dos encarcerados, dando a nonato um elevado status. A história é contada mostrando essa ascensão do personagem nos dois planos de sua vida, chegando a um final muito interessante. Nele descobriremos o motivo dele estar preso e ainda como se desenrola sua trajetória de elevação de status entre os demais presos. Esse status também pode ser considerado, segundo Garine, no âmbito do consumo de alimentos, onde sua mudança de padrão de vida, gradativamente revela um novo olhar para os alimentos e suas formas de prepará-lo desconhecidas. Neste caso, o nível sócio econômico como o agente delimitador.
Foi “convidado” por “Bujiú” para realizar um banquete de boas vidas a um novo prisioneiro que seria transferido, o “Etcetera.”, considerado o “chefe dos chefes” na prisão. Nesse banquete, Nonato depois de tentativas frustradas de cardápio, consegue agradar a todos. Articula o envenenamento de Bujiú, com um feijão preparado somente para ele. Podemos fazer uma relação com o que diz Igor de Garine: “A busca da saciedade, a participação em banquetes coletivos (..) e a digestão em comum constituem um dos principais estímulos das relações sociais”. É isso que no filme é demonstrado, pois se queria fazer uma boa apresentação e levantar a moral perante o convidado.Nessa cena podemos perceber as idéias de seleção de alimentos feita por diferentes classes sociais e culturas; no banquete, Nonato apresenta pratos considerados finos e vinho conceituado. Mas não agrada aos gostos, tendo inclusive discussão em cena sobre o degustar os alimentos e seus sabores contra o simples comer para saciar a fome. Há uma diferenciação entre comida e alimento, como mostra Roberto Damatta: “Qualquer brasileiro sabe que toda substância nutritiva é “alimento”, mas se sabe também que nem todo alimento é “comida.”” A satisfação nutricional nem sempre sendo prioritária e sim a sua capacidade de satisfazer o paladar, como no caso do queijo gorgonzola e da formiga. No filme fica bem explicitado, no caso da formiga, que em outros lugares ela é consumida com a maior naturalidade, e sendo inclusive comida de requinte. Ao invés de ser, como questionado no filme, consumida pelo país por ele ser considerado pobre. O personagem faz formiga frita para os demais após saber que é consumido em outros lugares. Não agrada e é altamente punido por isso. Apesar de o alimento ter sido preparado, tornando se então comida, a cultura alimentar não permitiua introdução do novo prato. Como mencionado por Maria Eunice Maciel, “ Há uma escolha, uma seleção do que é considerado “comida” (pg. 147) e segundo Igor Garine, “ o homem se alimenta de acordo com a sociedade a que pertence. Sua cultura define as opções sobre o que é comestível e as proibições alimentares que eventualmente distinguem de outros grupos humanos” ( pg.4). O mesmo acontece com o queijo gorgonzola, que é visto com estranheza pela maioria dos personagens pelo fato de ser consumido embolorado.
Voltando para o momento em que Nonato mata Bujiú com feijão envenenado, podemos ver claramente a diferença de atitude do protagonista nessa nova fase de sua vida. Torna- se agora uma pessoa encorajada pelos seus dotes culinários e almeja cada vez mais poder dentro da cadeia. Nesse momento ficamos sabendo que sua pretensão de casar-se com Íris era um erro. Ele a encontra em uma relação com seu patrão, Giovani e acaba matando os dois. Faz um ato inesperado ao cozinhar um bife das nádegas da mulher. Até na morte a relação com a comida esta presente. Esse pode ser considerado um marco para Nonato diante de sua ingenuidade perante a cidade. Se antes agia como aprendiz e estava se desenvolvendo profissionalmente e pessoalmente, agora esta ciente de sua capacidade e “aprende as regras da sociedade dos que devoram ou são devorados. Regras que ele usa a seu favor, porque mesmo os cozinheiros têm direito a comer sua parte - e eles sabem, mais do que ninguém, qual é a parte melhor.” ( sinopse do filme: http://www.estomagoofilme.com.br/sinopse1.htm)



















Bibliografia

MINTZ, Sidney W. Comida e antropologia: uma breve revisão. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v.16, n.47, p.31-41, 2001.

GARINE, Igor de. Alimentação, culturas e sociedades. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v.15, n.7, p.4-7, 1987.

GARINE, Igor de. Alimentação, culturas e sociedades. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v.15, n.7, p.4-7, 1987.

DA MATTA, Roberto. Sobre o simbolismo da comida no Brasil. O Correio da Unesco, Rio de Janeiro, v. 15, n. 7, p. 22-23, 1987.

WWW. Estomagoofilme.com.br

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