quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Alcalinizar para EVITAR o câncer


:: Conceição Trucom ::
Retirado do site http://somostodosum.ig.com.br/

Sempre lembrar que a semeadura da saúde integral (corpo-coração-mente-espírito) são os bons hábitos do dia-a-dia. Portanto, manter o seu organismo alcalinizado, através da alimentação e demais hábitos saudáveis, é a grande sabedoria, a colheita feliz.
Localização 1: não se trata de um foco, uma obsessão pela saúde para evitar doenças, mas na saúde pela sabedoria, pela superação da vida, pela evolução.
Localização 2: acreditar em milagres para neutralizar os maus hábitos (escolhas e decisões) de vida faz parte da ilusão, da falsa expectativa e da contracultura, cuja inevitável colheita é empacar no caminho da evolução e da saúde do Ser.

Uma novidade está no ar
O Dr. Tullio Simoncini, médico italiano especialista em oncologia, diabetes e desordens metabólicas, constatou algo simples que considera a causa do câncer. Ele observou que todo paciente oncológico apresenta quadro repetitivo de aftas, sintoma já identificado pela comunidade médica, mas sempre tratado como uma infecção oportunista por fungos: a famosa cândida albicans ou candidíase.

A constatação é que todos os tipos de câncer apresentam essa característica, ou seja, vários são os tipos de tumores, mas em comum a manifestação das aftas no paciente, que se sabe é um sintoma de acidez metabólica.
Então, pensou ele: não seria ao contrário? A causa do câncer ser a proliferação descontrolada do fungo?

Essa é uma interpretação válida, mas antes disso, eu, Conceição Trucom, afirmo: fungos e aftas só acontecem, só proliferam ou se instalam em meio ácido, em organismos ácidos. Em organismos alcalinizados tal fenômeno não tem como acontecer ou se perpetuar.

Repetindo o que já se sabe faz um século pela cultura Biodinâmica e muitos centros de medicina naturalista: fungos, vírus, bacilos e bactérias só proliferam em meio ácido, ou seja, em organismos ácidos, em solos ácidos. E, organismos ácidos, seja um solo, um animal ou ser humano, revelam um estado de subnutrição, desmineralização, doença, envelhecimento e morte.
Então, a verdadeira causa das doenças, no caso as infecções, candidíases e aftas, assim como o câncer, acontece porque a alimentação moderna, industrializada, aditivada e refinada é altamente acidificante.

Um solo ou ser humano que faz uso massivo de "alimentação" natural, de origem vegetal, crua e orgânica, certamente será levemente alcalino, proporcionando um metabolismo harmônico, equilibrado e saudável, pronto para se defender dos naturais ataques e invasões destrutivas: seja um fungo, bactéria, célula mutante ou tumor.

Se uma substância alcalinizante, como o bicarbonato de sódio, extermina com os fungos e microorganismos tumorais, é fácil deduzir que o meio adequado para o desenvolvimento e perpetuação dos mesmos é um meio ácido.
Por exemplo, a faixa normal de pH da saliva de uma pessoa que se alimenta saudavelmente (80 a 100% crua e viva) é levemente alcalina 7.36 a 7.42 (lembrar que o pH neutro é 7.0). Pessoas que exageram no açúcar, refrigerante, frituras, refinados, carnes e refeições 100% cozidas apresentam pH ácido de 6.5 a 6.8, enquanto uma pessoa com câncer apresenta pH mais ácido ainda: 4.5 a 5.7.

Os maus hábitos repetitivos de alimentação e de vida, como o fast-food e o sedentarismo, condições rapidamente acidificantes, geram um organismo continuamente acidificado, um estresse metabólico que deprime o sistema imunológico e a força de sustentação da vida, minando diariamente a saúde, a vitalidade e os projetos evolutivos de transformação e curas.
Este é o motivo pelo qual peço que todos cuidem da sua saúde integral de forma sábia, ou seja, diária e preventivamente. E não se trata de um foco na saúde para evitar doenças, mas na saúde pela sabedoria, pela superação da vida, pela evolução.
Para tanto, sugiro a leitura de todos os textos + vídeos do Boletim Doce Limão de novembro/08: Não podemos ser ácidos

A forma de neutralizar e "curar" do Dr. Simoncini
Este foi o raciocínio do Dr. Simoncini: para exterminar esse fungo vou neutralizar (alcalinizando) este meio doentio e ácido. Assim, ele faz uso do agente neutralizante de acidez mais antigo e simples que a humanidade conhece: o bicarbonato de sódio.

Inicialmente, banido da comunidade médica italiana, foi aplaudido de pé na Associação Americana contra o Câncer quando apresentou esta sua constatação e a terapia de alcalinização com o bicarbonato de sódio. Tem vários vídeos desta apresentação no YouTube. Veja mais no STUM

Assim, ele começou a tratar seus pacientes com lavagens (via procedimento hospitalar) com bicarbonato de sódio e controlando metodicamente os tumores. Resultados surpreendentes começaram a acontecer. Tumores de pulmão, próstata e intestino desaparecem, juntamente com as aftas. Desta forma, muitos pacientes de câncer foram curados e hoje comprovam com seus exames os resultados positivos do tratamento.

Muitos alertas
1) O Dr. Simoncini começou a tratar seus pacientes com bicarbonato de sódio, com lavagens, via procedimento médico e hospitalar, e controle metódico dos tumores. Atenção: realizado e monitorado por EQUIPE MÉDICA.

2) Não faça ingestão. Muito cuidado com os textos que estão circulando pela net que induzem à automedicação. Embora o bicarbonato de sódio seja um medicamento fácil de comprar nas farmácias, NÃO FAÇA QUALQUER AUTOMEDICAÇÃO. O uso continuado e abusivo de bicarbonato de sódio via oral pode causar graves problemas renais.

3) Mais cuidado: o texto que circula pela net informa que "quaisquer tumores podem ser curados com esse tratamento simples e barato". Pode ser barato, mas não é simples e não pode ser realizado domesticamente: todo cuidado é pouco nesta mania do brasileiro de se automedicar. Este é um procedimento MÉDICO. Não é brincadeira!
Para saber mais, ou informar seu médico sobre este tratamento, visite os sites e assista ao vídeo endereçados abaixo.

Vai acabar a farra dos laboratórios farmacêuticos...
Esta é a chamada sensacionalista que tem circulado na net. Mas não é assim tão milagrosamente simples não. Precisamos primeiro sair da contra-cultura da desinformação ou da banalização ou irresponsabilidade da informação.
Enquanto as pessoas não se conscientizarem sobre os seus maus hábitos alimentares e de vida, a indústria da doença irá crescer sim e vertiginosamente.

Não existem milagres ou fim deste capitalismo selvagem (*) que executa a indústria da doença. Esta indústria existe porque damos poder e força para ela seguir, cada vez mais, existindo. Diga-se de passagem: somos cada dia mais dependentes dela.
Fico bem triste com a constatação de que as pessoas querem se auto-enganar para poder seguir com seus maus hábitos. E, uma forma de se auto-enganar é acreditar em facilidades, em milagres, no poder do externo. Um raciocínio comum nas mensagens que recebo: como tudo que eu quero, faço tudo que eu quero e depois, o que você acha Conceição, das pílulas A, B ou C? Do chá verde, branco ou azul? Da alga X, do cogumelo Z ou da auto-injeção W?
Não acreditem que esta é a solução. Que estão conseguindo enganar ao seu corpo, fígado, pâncreas, coração ou rins. Que a solução é ter câncer e depois, na seqüência, se automedicar com bicarbonato. Até porque, se não curar a causa, o câncer voltará.

O MILAGRE, ou melhor, o NORMAL é não ter câncer. É não ter diabetes, síndromes as mais diversas e modernas ou problemas cardiovasculares.
E, se a doença já está instalada, cuidar para sair o mais rápido da zona de perigo, mas buscar a CURA verdadeira, que só o próprio organismo, enquanto alcalinizado, vitalizado e nutrido, poderá fazer.
Medicina preventiva é a localização pessoal, é viver na real, é a humildade, é a sabedoria, é o comprometimento de VIDA que te quero VIVA!
É simplesmente uma alimentação saudável e hábitos amorosos de vida. É menos ilusão, mais localização.

Esta é a melhor forma de acabar com a farra dos laboratórios farmacêuticos e da indústria alimentícia, que enchem as bufas de dinheiro induzindo doenças e produzindo drogas contra câncer, diabetes, colesterol, hipertensão, ansiedade, obesidade, etc.
Estas farras só irão acabar quando assumirmos a responsabilidade e o respeito para com o nosso corpo físico, coração, mente e espírito. Quando assumirmos o nosso poder e não deixá-lo nas mãos de desejos iludidos, remédios, médicos, hospitais e planos de saúde.
Penso que neste momento de transição consciencial e planetária, eles até podem existir, mas não da forma como o usamos: primeiro como fico doente, depois verei o que faço.
Viva a Alimentação Desintoxicante! Viva a Alimentação Crua e Viva!
Viva o nosso rico dinheiro e energia investidos com o simples e natural. Com o que verdadeiramente soma e constrói saúde plural.

(*) O capitalismo selvagem só existe enquanto as pessoas estiverem 100% focadas na sobrevivência, no imediatismo e na ilusão.
- Vídeo em italiano, legendado em português, onde o Dr. Túlio Simoncini apresenta sua teoria

Clique aqui para ver,diretamente do site do Somos todos um, um vídeo
onde o Dr. Túlio Simoncini apresenta sua teoria:

http://somostodosum.ig.com.br/conteudo/c.asp?id=08133


domingo, 28 de setembro de 2008

Caio Fernendo Abreu: Para uma avenca partindo


Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê.

Resumo por Nada e Menos um Pouco: Muchembled, Robert : Uma história do diabo


Com o Diabo no corpo

O autor fala da necessidade em estudar as concepções médicas do corpo para compreender a história do Diabo. Onde, no século XVI noções eruditas e populares misturavam-se. Então superstições “atingiam” até os mais célebres sábios, devido à crença fazer parte do olhar cientifico. Através dela pode-se pensar no imaginário coletivo sobre as concepções das partes baixas do corpo, onde a “Europa passa por uma luta de transição pensamento mágico generalizado a uma visão racional”. (p.92)

O corpo mágico

Trás a idéia de que o corpo era entendido como um envoltório de humores. O homem era considerado quente e seco e a mulher fria e úmida. A medicina, através dos remédios, tinha a incumbência de reequilibrar os humores internos. Dessa necessidade, surgiram receitas médicas dando instruções de alimentação e comportamento para cada mês do ano. Pode-se pensar hoje, que essas receitas foram populares, mas “formavam, no século XVI, a trama da medicina mais avançada” (p.54). O desenvolvimento das pesquisas anatômicas era barrado pela hostilidade da igreja, problemas técnicos, respeito ao saber antigo, orientação das patologias dos humores e ainda a grande influência do humanismo que trazia a tona o modelo teórico de Galeano.

O pensamento médico, para explicar as novas doenças descobertas (hoje chamadas infecciosas), recorre para as noções antigas de influencia astral, onde o corpo do homem, o microcosmo está ligado por estruturas onipresentes ao macrocosmo (o universo) e o contágio, que segundo o autor foi “o vetor principal de uma visão mágica do corpo, cuja parte sombria deu crédito as teses demonológicas” (p.95) desencadeando as perseguições às feiticeiras.

A tese em alta na segunda metade do século XVI, através do método italiano Girdamo Fracastoro, era a teoria do miasmo. As doenças vinham das fermentações locais de humores corporais, sob a influência de um fator externo. (p.96) As infecções assumem uma visão “mágica”. Onde o medo das infecções era projetado na figura do Satã.

Do corpo feminino

No segundo terço do século XVI, a representação e a exposição da mulher, tiveram uma série de restrições. Cada vez mais tinha que “cobrir cada centímetro de sua carne pecadora” (p.97). A natureza de mulher foi redefinindo-se, chegando a médicos considerarem ela como “um macho incompleto” (p.98). A mulher era o ser sombrio, mais perto do Diabo que o homem ser inspirado em Deus. Ela é o ser pecador, naturalmente inferior ao homem, de seu útero provinham doenças. Essa visão é fruto de concepções teológicas, médicas, do direito e juntamente com preconceitos populares. “Em termos históricos ela fundamentava a superioridade masculina e explicava sujeição exigida das mulheres no conjunto da sociedade” (p.99).

O autor apresenta a visão do médico Levinus Lemnius, representativa da medicina na Europa. Ele tinha uma “visão mágica herdada do passado medieval” (...) como era “apaixonado pelas idéias de Hipócrates e de Galeano” (p.99). Suas obras tiveram grande repercussão tendo várias edições, o autor vai destacando as várias concepções de Lemnius, onde fazia-se um contraponto entre o masculino e o feminino. Embora alguns autores não concordassem com algumas idéias de Lemnius, todos buscavam-se na superioridade masculina.

Monstros e maravilhas

O autor fala da distinção feita entre Demônio (ligado a Satã) e monstro (geralmente um sinal divino), no século XVI. O imaginário aumenta quando acontece a conquista da América, onde reforça-se a visão mágica do corpo os índios “tinham a cabeça embaixo ou um único olho, uma tromba no lugar da boca, etc..”

Deu-se margem para a noção de criaturas hibridas, onde mantinham características humanas e animais. Na Reforma, os monstros foram representados de forma a “desvalorizar o campo adversário” (p.106). A alusão de um monstro hibrido, relatado por Freiberg, associada a Lutero e seus vícios, fez com que ele panfletiasse na mesma forma: “o asno-papa de Roma e o monge-veado de Freiberg” (p107). Mesmo Ambroise Paré, que era um “notável conhecedor do corpo humano”, aceitava a existência dessas criaturas anormais, explicando-as através de três noções: “a vontade divina, a sexualidade pervertida e a imaginação delirante” (p.108). Os monstros eram bem diferenciados dos demônios, um fazia parte realidade, o outro era considerado como imaterial. Paré afirmava que monstros nascem muito devido a seus pais terem feito o “ato da cópula como animais brutos, guiados pelos seus apetites” (p.108). Seria uma forma de Deus julgar por se levar pelo prazer ao invés do dever de procriação. Mesmo ocorrendo algumas descobertas fisiológicas, médicos continuavam com a mesma visão. Desconfiava-se do coito com animais, onde “anunciava grandes catástrofes” (p.110).

O autor fala da concepção de geração espontânea, onde esta era difundida entre os doutos. A sexualidade das mulheres traz o medo, ela ao entregar-se a um animal, certo que nascerá um ser híbrido. Os homens não flavam sobre crianças monstruosas para as mulheres grávidas com o medo de influenciar a sua imaginação e acontecer um nascimento anormal. “ O vulcão de paixões femininas”(p.112) tinha de ser controlado na disciplina masculina e através desta “versão mítica de interditos sexuais estendito a todos, mas visando principalmente as mulheres”(112)

O inferno do sexo

O autor começa falando, na visão de Mikhail Bhaktin, sobre as “duas vidas” que o homem medieval possuía: “a vida oficial e a do carnaval; de dois aspectos de mundo, um piedoso e sério, outro cômico”(p.113) Exemplificado no fato de “ a piedosa Margarida de Navarra”, ser autora de contos eróticos. Não existia a noçã ode pudor como concebemos hoje, ocorreu gradativamente e ficando mais intenso no século XVI. Apesar de a igreja tentar difundir uma mensagem de que as partes baixas do corpo remeten-se ao inferno. A sociedade era complacente com os prazeres carnais e as manifestações fisiológicas. Isso começa a mudar em meados do século XVI, com a idéia de que o sexo masculino, o juízo final e o inferno tinham uma relação explícita. Ocorreu tanto na cultura popular quanto entre os nobres e citadinos de melhor condição econômica. Deu-se a moralização dos “infernos corporais” através das autoridades civis e religiosas, “tanto nos países protestantes quanto na terra da contra-reforma”.(p.115) Induzia-se ao pecado. Procurou-se, no estado moderno, consolidar a unidade familiar, controlar a sexualidade feminina através de “ leis sobre o casamento e sobre os desvios sexuais”(p.116) A relação entre os sexos foi o grande foco na Europa, buscava-se o controle do corpo, principalmente o da mulher. Aos poucos a noção de pecado e de má conduta assumiam novas formas, surgindo mensagens moralizantes pela Europa afim de tornar o homem menos bestial, limitando a conduta entre o certo e o errado. Como no caso de o homem ser um “saco de vícios, o corpo masculino podia ser facilmente invadido pelo demônio quando o indivíduo bebia em excesso”.(p.118) Apesar destas tentativas moralizantes, surgiu uma literatura escatológica visando uma resistência a essa seriedade e repressão. Afirmando que o corpo “ainda não era tão sagrado, tão divino quanto pretendiam os moralistas, mas ele avançava neste caminho”(p.118). Neste sentido, devia-se ter disciplina e aplicar o que Deus lhe destinou. As pressões existiam nos dois gêneros, mas de forma fundamentalmente diferentes: “ os homens eram vistos como seres cujos fluídos, ou violência, jorravam sem cessar para infectar o mundo, ao passo que as mulheres traziam a poluição sobre a cidade ao recebê-la em seu útero matriz sempre aberto”.(p.119) Esta diferença era reforçada na prática do exorcismo católico, e ampliado pela feitiçaria, onde os demônios preferiam alojar-se nos corpos femininos e o homem salvaria a sua alma.

O autor traz as concepções de um jurista anônimo, compilador de sentenças judiciais de 1640, onde ele traça um panorama, influenciado pela contra-reforma, dos crimes contra os costumes. Os tribunais eclesiásticos perderam lugar, nos países baixos e na França, para os tribunais civis. Neles, reprimia-se “mais duramente a menor transgressão deste código sexual baseado na sacralidade do casamento e no recalque dos instintos bestiais”(p.121) O jurista anônimo aponta então os graus de crimes e suas punições, tais como; o adultério, a poligamia, o estupro, incesto, infanticídio, a sodomia, a bestialidade. “ Em suma, é o excesso de paixões que leva o diabo ao corpe do homem e principalmente o da mulher”(p.125)

Para uma história dos sentidos: A promoção do olhar e a diabolização do olfato

“O olhar estava ligado a masculinidade, a Deus, à clareza, à razão”(p.129) Através do olhar podia-se causar doenças, as mulheres podiam enfraquecer o homem e para Guillaune Bouchet, “o amor tem sua fonte no olhar”. Seguidores de Platão, acreditavam que o olhar que iluminava os objetos e, já para Aristóteles a recepção dos raios luminosos que vinham de fora explicavam a visão. “ Enquanto os mecanismos de promoção da visão adquiriam espaço, o olfato experimentava uma descida ao inferno.”(p.129)

A representação da morte passou a mudar na Europa a partir do século XVI, e a figura da mulher e o olfato tinham ligação nesta mudança. “O médico Lemnius falava do mau cheiro natural da mulher em oposição ao odor aromático do corpo do homem”(p.130). Com a teoria do contágio em voga, a “perturbação das qualidades primeiras do ar” pelas pestes era inevitável, precisaria-se então tomar precauções contra as putrefações. “Uma relação cada vez mais forte se estabelecia entre os odores deletérios, excrementos, o pecado e o inferno”(p.131) Médicos usavam máscaras com o bico cheio de aromas protetores, viravam o rosto quando iam visitar um paciente doente, para não sentir o cheiro do outro e não cruzar o olhar com o paciente que assim poderia “transportar seu mal”. O fedor da peste era maléfico, era associado ao demônio, ele”manifestava-se por meios de exalações sulforosas; Satã reina sobre o olfato”(p.133) Tornou-se pecado uma pessoa cheirar muito mal, alem de ser sinônimo de doença, assim, perfumes ganharam grande destaque. Usavam de vários artifícios para preservar o “corpo poroso”como, embeber uma esponja de vinagre para cheirar enquanto caminha pelas ruas, bolas de gesso odoríferas, laranjas limões, etc. Mas, segundo moralistas e homens da igreja, “a barreira odorífera protetora podia, no entanto, transformar-se em armadilha demoníaca”(p.135) Os excessos femininos eram os mais visados, o médico Louis Guyon, reclamava de que as mulheres colocavam “perfume sobre a glande viril ou na vulva antes do coito para daí extrair maior volúpia”(p.136). Segundo ele e vários outros autores, dessa forma, como o corpo da mulher já é inclinado aos desejos carnais exagerar em odores abre assim “a porta dos infernos”. Essa diabolização das partes baixas do corpo, teve uma ligação com a caça as bruxas. Todos acreditavam nas obras do demônio , tanto em feiticeiras quanto em si próprio, através do pecado. Juízes em processos de feitiçaria mandavam examinar o corpo da mulher, principalmente os órgãos íntimos, “onde o demônio se aninha melhor”.

Estando em uma época de transição entre a magia e a ciência, reunia –se “as

magias esparsas do passado em uma visão unificada do universo, na qual o diabo agia sobre autorização divina e na qual todo o mortal deveria aprender a controlar suas paixões”




sábado, 20 de setembro de 2008

Carlos Drummond de Andrade

Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.

Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram.

Por que sofremos tanto por amor?

O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável, um tempo feliz.

Sofremos por quê?

Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos, por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos.

Por todos os beijos cancelados, pela eternidade.

Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar.

Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender.

Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada.

Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar.

Como aliviar a dor do que não foi vivido?

A resposta é simples como um verso:

Se iludindo menos e vivendo mais!!!

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade.

A dor é inevitável.

O sofrimento é opcional.



A casa do tempo perdido

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.

Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.



Fernando Pessoa

Assim Como

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer
pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.


Um Dia de Chuva

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Violeta de Outono no estúdio showlivre






1- "Além do sol" e "Cavavana", ambas de Fabio Golfetti
Camisa de Vênus no estúdio showlivre






1- "Simca chambord" - (Marcelo Nova)

domingo, 7 de setembro de 2008

Marcelo Nova - Blackout





1991 - Blackout
1. Deixa eu por meu carro
2. Muito além do jardim
3. O que você quer
4. Maluco beleza
5. Sexo blues
6. Noite
7. Aporrinhado Terminal
8. Fogo no inverno
9. Robocop

http://www.badongo.com/file/2951019

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Rapsodia do rock





1 No mundo dos sonhos [Pepperland]
2 Vôo de Ícaro
3 Bolero de Ravel
4 Noturno nº 10
5 Bachianas brasileiras nº 5
6 Concerto para uma voz
7 Batman rock
8 A dança da sedução
9 O fim da guerra da montanha
10 Transcendental
11 Pole position [A sinfonia dos motores]

http://rapidshare.com/files/60046134/Rapsodia_Rock_HARDOBLOG_BY_MORSA.zip


creditos:www.agoraerock.blogspot.com
http://hardblog.kanak.fr/power-heavy-metal-f2/robertinho-do-recife-rapsodia-rock-1990-t9396.htm#203489

quarta-feira, 23 de julho de 2008





a
A História Viva é fruto de uma parceria com a revista francesa Historia.
Lançada no final de 1909 a revista consagrou-se junto a intelectualidade
e aos leitores europeus como veículo referencial de divulgação da História
em linguagem acessível. Com uma abordagem investigativa e inquietante,
mensalmente História Viva trás as evoluções e as novas visões dos
principais fatos que marcaram o mundo, desvendando um lado ainda
pouco conhecido da história.
a


Nome do livro:
História Viva
Nome do Autor:
História Viva
Gênero:
Revista Histórica
Ano de Lançamento:
2004
Editora:
Duetto

Nº de páginas:
110
Tamanho:
258MB
Formato:
pdf
Idioma:
Português




FAture Alto Com O Bit Road



creditos: www.clubdownloads.blogspot.com

quinta-feira, 19 de junho de 2008

"Tenho a impressão que a vida, as coisas foram
me levando. Levando em frente, levando embora,
levando aos trancos, de qualquer jeito. Sem se
importarem se eu não queria mais ir. Agora olho em
volta e não tenho certeza se gostaria mesmo de
estar aqui."

terça-feira, 17 de junho de 2008

- "Por que o amor, como a morte, também existe – e
da mesma forma dissimulada. Por trás, inaparente.
Mas tão poderoso que, da mesma forma que
a morte – pois o amor é uma espécie de morte
(a morte da solidão, a morte do ego trancado,
indivisível, furiosa e egoisticamente incomunicável)
– nos desarma. O acontecer do amor e da morte
desmascaram nossa patética fragilidade.
Como amor e morte não se separam – feito
quem diz “era uma vez”, conto: na tarde de
sábado, estava eu assustadamente dentro
do amor (eu não acreditava mais que o amor
existisse, e a vida desmentia)"



C.F. Abreu

domingo, 15 de junho de 2008

Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira.

Eu, por exemplo.(...) Freqüentemente me assusto,pensando

que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor

ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação

que justifique esse isolamento.


Caio F. Abreu (limite branco)

domingo, 4 de maio de 2008

É uma morte que vive
pernambulando nas dúvidas,

nos enterramos vivos
pensando no morrer,
vivemos mortos
pensando no viver

e quem iré chorar
as lágrimas que me caíram?
saberás da minha morte
e pisarás no meu túmulo?
ou a primeira pá de terra será sua,
juntamente com a vivacidade
de uma pétala de rosa?




"quem pagará o enterro e as flores se eu morrer de amores"

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Morre lentamente quem ..

Morre lentamente quem não troca de idéias, não troca de discurso, evita as próprias contradições.
Morre lentamente quem vira escravo do hábito, repetindo todos os dias o mesmo trajeto e as mesmas compras no supermercado. Quem não troca de marca, não arrisca vestir uma cor nova, não da papo para quem não o conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru, seu parceiro diário. Muitos não podem comprar um livro ou uma entrada de cinema, mas muitos podem, e ainda assim alienam-se diante de um tubo de imagens que traz informação e entretenimento, mas que não deveria, mesmo com apenas 14 polegadas, ocupar tanto espaço em uma vida.
Morre lentamente quem evita ema paixão, quem prefere o preto no branco e os pingos nos is a um turbilhão de emoções indomáveis, justamente as que resgatam brilho nos olhos, sorrisos, soluços, coração aos tropeços, sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz no trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto atrás de um sonho, quem não se permite, uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não acha graça de si mesmo.
Morre lentamente quem destrói seu amor-próprio. Pode ser depressão, que é doença séria e requer ajuda profissional. Então fenece a cada dia quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem não trabalha e quem não estuda, e que na maioria das vezes isso não é opção e, sim, destino: então um governo omisso pode matar lentamente uma boa parcela da população.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da má sorte ou da chuva incessante, desistindo de um projeto antes de iniciá-lo, não perguntandp sobre um assunto que desconhece e não respondendo quando lhe indagem o que sabe.
Morre muita gente lentamente, e esta é a morte mais ingrata e traiçoeira, pois quando ela se aproxima de verdade, aí já estamos muito destreinados para percorrer o pouco tempo restante.
Que amanhã, portanto, demore muito para ser o nosso dia. Já que não podemos evitar um final repentino, que ao menosevitemos a morte em suaves prestações, lembrando sempre que estar vivo exige um esforço bem maior que simplesmente respirar.

Martha Medeiros